segunda-feira, 23 de julho de 2012

Receita de leitura... "O grito da gaivota"

O grito da gaivota é o testemunho da francesa Emmanuelle Laborit, uma surda profunda. Como ela é filha de pais ouvintessó descobriram a sua surdez aos 9 meses de idade. Viveu uma infância traumática pois só consegue falar com a sua mãe através de uma linguagem inventada por elas, à qual chamavam “linguagem umbilical”. Com cinco/seis anos vai para uma escola só de surdos onde aprende as letras, os números e a dizer o seu nome. Um dia, o pai de Emmanuelle ouviu na rádio uma notícia sobre um homem ator, encenador de teatro e surdo. Esse homem conferenciava sobre a língua gestual. Como o pai de Emmanuelle era médico, confiou nos seus colegas pediatras, otorrinolaringologistas, ortofonistas e pedagogos que diziam que Emmanuelle tinha de aprender a língua falada e nunca lhe falaram na existência de uma língua gestual. Ele ficou eufórico com a ideia dela poder aprender língua gestual e no dia seguinte partem para Vincennes, perto de Paris. Aí, Emmanuelle aprendeu língua gestual. Emmanuelle sentia-se muito feliz, pois assim conseguia exprimir os seus sentimentos e as suas ideias com as outras pessoas. Até aí lia nos lábios das pessoas e emitia alguns ruídos. Entretanto, nasceu a sua irmã que não era surda, mas ainda assim Emmanuelle começou desde nova a ensinar-lhe a língua gestual, tornando-se mais tarde a sua confidente. Emmanuelle foi para uma escola especializada em surdos, onde era proibido usar a língua gestual, só podia “ler nos lábios” das pessoas. E foi aí que Emmanuelle soltou o seu espírito revolucionista e começou a reivindicar os direitos dos surdos. Ela não compreendia o porquê da proibição da “língua dos surdos”. Entrando na adolescência, apaixona-se por um rapaz surdo, quatro anos mais velho do que ela. Os pais dela achavam-no selvagem, marginal e violento. Mas Emmanuelle não se importava com isso. Influenciada pelo seu grupo de amigos começou a arranjare a meter-se em problemas. Começou a consumir álcool e droga. Entretanto, foi convidada para entrar em pequenas peças de teatro. Mais tarde foi convidada para entrar na peça “Filhos do silêncio”, peça que a torna numa atriz famosa, ganhando mais tarde o prémio Moliére.
Indicações:
Este livro é recomendado a todas as pessoas que esteja m com problemas de autoestima. Mostra-nos uma rapariga com problemas mas que luta pela sua superação, chegando aos grandes palcos. Emmanuelle conseguiu desvalorizar as suas derrotas, conquistando grandes vitórias. Tal como toda a gente deve fazer. É um testemunho real que nos apela a lutar pelos nossos objetivos.
Precauções:
O livro “O grito da gaivota” revela-nos muitas injustiças que ocorrem com os surdos. Os surdos nem sempre são compreendidos e são marginalizados. Muitas vezes os surdos são vistos como deficientes só porque não conseguem ouvir. Os surdos podem não conseguir ouvir mas têm sentimentos e, acima de tudo, são pessoas. As pessoas que conseguem ouvir ficam muito “agarradas” à audição, mas a vida sem a audição também é possível. Os surdos desenvolvem outras capacidades, por exemplo, a visão, assim os olhos deles quase que conseguem substituir os ouvidos. Por isso, este livro não é aconselhável a pessoas mais sensíveis à violação dos Direitos Humanos.
Ao ler este livro é importante não seguir as más influências da adolescência de Emmanuelle. Portanto, não é aconselhado a pessoas que se deixem influenciar facilmente pelos outros.
Posologia:
É aconselhável ler este livro num espaço calmo e silencioso. Por exemplo, dentro de uma divisão fechada onde não haja contacto com o mundo exterior e onde haja silêncio absoluto. Assim o leitor pode tentar sentir o que Emmanuelle sente, havendo sempre uma barreira entre ela e o resto do mundo. O leitor pode também fazer a experiência de viver um dia como se fosse Emmanuelle. Estar um dia inteiro sem comunicar com ninguém através de palavras e tentar estar num espaço com o máximo de silêncio. Assim o leitor conseguirá perceber a revolta que Emmanuelle sentia, pois ela é surda todos os dias.

Dose da leitura:
 “Recuso-me a ser considerada excecional, deficiente. Não sou. Sou surda. Para mim, a língua de sinais corresponde à minha voz, meus olhos são meus ouvidos. Sinceramente nada me falta. É a sociedade que me torna excecional.”
“Tenho ainda muito que aprender, ainda me interrogo muito. Aprender, aprende-se uma vida inteira. Se a pessoa deixa de aprender está tramada. A vida tem que continuar, dia após dia, com outras novidades, com aprendizagens diferentes. É assim que se goza realmente a vida. A minha filosofia é combater. Lutar para viver. Não se render.”
Vânia Silva, 11º A

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